Artigo de Equipa Automundo
16-01-2018

Diz-se que a vida tem dois dias mas quando decidimos trocar as quatro rodas pelas duas corremos sérios riscos de ver esse período encurtar. Verdade? Nem por isso. Basta que tenhamos em consideração uma série de coisas, as quais não passam necessariamente pela mota que se escolhe, mas sim como nos comportamos com ela no mesmo local onde antes passávamos de carro.

Usar as duas rodas como principal meio de transporte, ao fim de muitos anos de condução automóvel, poderá não possibilitar a destreza de um Valentino Rossi mas dá de certeza um manancial de conhecimento, que só um automobilista pode ter.

Assim sendo, bastará começar a pensar nas asneiras que fez ao volante – e que são comuns a todos – para que evite que elas se virem contra si, quando estiver de capacete na cabeça. Aqui fica uma lista de coisas úteis para lhe salvarem o coiro do casaco de cabedal, já para não falar do que está por baixo.

Trocar o carro pela mota, depois de muitos anos a conduzir um veículo de quatro rodas, é algo que requer alguns cuidados.

 

1 – Ter medo
Acredite que é verdade. Ter receio é meio caminho andado para estar sempre alerta. Medo, leia-se, não é pânico.

2 – Passar entre carros
Furar o trânsito tem tanto de ilegal como de inevitável. É um mal necessário mas que requer atenção redobrada. Evite fazê-lo quando se abrem espaços entre carros. É nessa altura que normalmente os condutores viram de forma brusca de faixa. E uma vez que as motas permitem ir muitas vezes numa posição superior aos automobilistas vá avaliando se quem vai ao volante está distraído a mudar o rádio, a mexer no telemóvel. E não se distraia muito com as mini-saias subidas. Vai apanhar várias ao longo da fila.

3 – Conduzir encostado à direita
Isto não é uma das “tangas” que aprendemos nas aulas de código. É que há malta que conduz com a mesma delicadeza de um elefante numa loja de porcelanas e em menos de nada está a tirar-nos tinta à mota.

4 – Guerra perdida
Enquanto condutor de quatro rodas, discutir, buzinar e gesticular com os “azelhas” do asfalto é um desporto nacional libertador, sobretudo se o dia não correu assim tão bem ou se temos a princesa a mandar SMS de dois em dois minutos a perguntar se demoramos muito. Mas de mota o caso muda de figura. Raramente saímos vencedores numa briga de trânsito e arriscamos mesmo a sujar a roupa de alcatrão. Está chateado? Vá de viseira aberta. Só isso faz com que a velocidade diminua. Fizeram-lhe uma tangente ou manobra perigosa? Dê o desconto. Afinal ele ainda está no carro de que se livrou e vai chegar a casa muito mais tarde.

 

Manter distâncias é um dos segredos de uma condução segura.

 

5 – Dias de risco
Não há um estudo cientifico para isto – pelo menos que tenhamos conhecimento – mas há horas, dias e alturas em que é mais perigoso andar na estrada. Nascer e por do sol são alturas críticas, pela posição do sol que encadeia quem conduz. As segundas da manhã, nem sempre são fáceis, com o stress a cegar a tolerância automobilística. As sextas caóticas também não recomendam a condução nas horas de ponta. Nestes horários a tática é “deixá-los andar”. Natal, Páscoa e altura em que as cabeças andam constantemente a fazer contas de somar, também devem ser tidas em conta.

6 – Estupidez natural
Não há bons e maus condutores, há pessoas civilizadas e existem as outras. Por isso, quando não nos querem dar passagem, facilitar a vida – eles que vão sentados e não têm o calor do motor a queimar as pernas – é assobiar para o lado. Mais segundo menos segundo vão passar.

7 – Manter as distâncias
Ter um carro a morder os calcanhares é das coisas mais desconfortáveis que alguém pode sentir a andar de mota – tirando talvez o vento e a refeição de mosquitos ao final do dia, servida nas planícies alentejanas. Acelerar e dar passagem de seguida é o melhor atestado de burrice que se pode dar a quem nos coloca em risco colando a frente do carro à mota. É uma espécie de “passas porque eu quero, vai lá à tua vida, ver quem chegou a casa antes de ti.”

8 – Desfrutar
Os jogadores de futebol queimam até à exaustão esta palavra. Os condutores das motas também. Não use só as duas rodas porque dá para fugir ao trânsito. Use-a para a vida. E que a vida seja mais do que dois dias.

 

Texto e foto: Luís Correia

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