Pedro Bianchi Prata: “Enquanto tiver aquela adrenalina antes do arranque de cada prova vou continuar a competir”
Pedro Bianchi Prata percorre uma carreira de sonho recheada de conquistas. O piloto revela os maiores obstáculos e o segredo do sucesso. Deixa ainda a garantia de que irá continuar a competir.
Pedro Biachi Prata fez a primeira corrida a sério no Enduro do Porto em 1991. Tinha apenas 17 anos e a assistência na prova foi dada pela família. Agora, e aos 50 anos, é 8 vezes Campeão Nacional de Enduro e TT, 5 vezes Campeão da Europa de Bajas e 5 vezes Campeão do Mundo de Bajas. Além disso conta com 12 participações no Rally Dakar e 10 medalhas no Campeonato do Mundo de Seleções. E em entrevista ao paraeles o piloto português da atualidade com mais medalhas do campeonato do mundo por seleções revela o que é necessário para continuar a competir.
Vamos começar com uma viagem até 1991. Que memórias guarda da altura em que participou na primeira corrida a sério?
Em 1991 tinha 17 anos e lembro-me que a minha primeira corrida foi o Enduro do Porto. A assistência foi dada pela minha família (o meu pai, a minha mãe e os meus tios) e fiz a prova com amota com que ia para as aulas todos os dias! Foi super emocionante porque nunca imaginei ficar em terceiro lugar na minha primeira prova do Campeonato Nacional.
“A minha primeira corrida foi o Enduro do Porto”
Na altura, imaginava que iria conquistar tudo aquilo que conseguiu?
Não, de maneira nenhuma. Na altura estava a acabar o 12º ano e o meu foco era entrar na faculdade para ser veterinário e acabei por entrar na faculdade com estatuto de Alta Competição por ter ganho o Campeonato Nacional de Enduro em 1992.
Em que momento é que percebe que a sua vida vai mesmo passar pelas motas? Ou seja, que não é apenas uma paixão.
Em 1994 quando fui contratado por umas das melhores equipas de enduro em Portugal. Embora fosse Júnior, fui competir na categoria Sénior e nesse ano ganhei todas as corridas do campeonato. Aí não tive dúvidas que a minha vida iria passar pelas motas.
“Fico orgulhoso por olhar para trás e ver que estes 33 anos de corridas foram recheados de títulos e que tanto esforço não foi em vão”
O que lhe vem à cabeça quando se diz que foi 8 vezes Campeão Nacional de Enduro e TT, 5 vezes Campeão da Europa de Bajas, 5 vezes Campeão do Mundo de Bajas, 12 participações no Rally Dakar, 10 medalhas no Campeonato do Mundo de Seleções? O que faz com que seja o piloto português da atualidade com mais medalhas do campeonato do mundo por seleções.
Fico orgulhoso por olhar para trás e ver que estes 33 anos de corridas foram recheados de títulos e que tanto esforço não foi em vão.
Quem olhar para o seu palmarés irá imaginar um percurso brilhante. Todas estas conquistas escondem obstáculos que acabam por não passar pela mente das pessoas?
Claro que sim. Por trás de um atleta e dos seus títulos está sempre um grande sacrifício, quer seja a nível pessoal com a nível físico das muitas lesões que se vão contraindo com tantas horas de treino e de competição.
“Tive sempre de procurar apoios fora do meio”
Quais os maiores obstáculos com que se deparou ao longo da carreira?
O tamanho do mercado do motociclismo em Portugal não permite que as empresas ligadas ao desporto motorizado tenham verbas para apostar na competição. Tive sempre de procurar apoios fora do meio e isso acaba por ser um obstáculo grande para um atleta.
A vida de piloto, em especial de motas, acarreta muitos riscos. Existe algum truque para controlar o receio que possa existir? E nunca passou por nenhum momento em que pensasse que seria melhor desistir?
A maneira que tenho de controlar o risco é saber quais são os meus limites e logo aí reduz-se muito a possibilidade de quedas. Confio em mim enquanto atleta, logo não tenho receio pois sei até onde ir. Nunca pensei desistir, esta é a minha vida.
Olhando para o seu percurso, tem muitas participações no Dakar, que é uma prova emblemática e na qual muitos sonham participar uma vez. Quais as melhores memórias que tem desta prova?
O Dakar é uma prova que marca a vida de qualquer piloto, quer pela dimensão, quer pelas vivências do dia-a-dia que fazem dela a prova mais dura do mundo. As memórias são muitas mas as que mais marcam são as paisagens únicas que temos oportunidade de ver nos vários países e continentes onde a prova decorre.
“Enquanto tiver aquela adrenalina antes do arranque de cada prova vou continuar a competir”
O que lhe passa pela cabeça quando está tantas horas sozinho em cima da mota?
Quando vou dentro de uma etapa, vou concentrado na navegação para não me perder e não cometer um erro que me possa provocar uma queda. Nas ligações vou a pensar na vida e a ouvir música.
E o que motiva, com um percurso tão rico e vasto, a continuar a competir?
Enquanto tiver aquela adrenalina antes do arranque de cada prova vou continuar a competir, quando perder esse encanto deixa de fazer sentido.
Ter sido pai tem algum impacto na mão que comanda a aceleração da mota?
Não, conheço bem os meus limites e tento minimizar os meus erros para não ter quedas. Claro que desde o nascimento do Vicente, muitos são os momentos em que penso nele e na Maria e na vontade de voltar para casa no final de cada prova.
“Gostaria que ele [filho] gostasse de andar de mota para um dia fazermos uns passeios juntos”
Gostava que o seu filho tivesse a mesma paixão que o pai tem pelas motas?
Não, claro que gostaria que ele gostasse de andar de mota para um dia fazermos uns passeios juntos, mas o importante é que ele estude e que faça o que o fizer feliz.
E vai ser fácil convencer a mãe a deixar o pai alimentar essa paixão? E já agora, como é que a Maria lida com a sua vida de piloto e os riscos da profissão?
A Maria é da mesma opinião que eu, o importante é que ele faça o que o fizer feliz. Irei alimentar a paixão das motas, se essa for a sua paixão, como alimentarei a paixão por outra coisa qualquer que ele escolha. A vida de piloto não é fácil, exige muitas ausências e isso tem o seu peso, mas a Maria respeita o que eu faço tal como eu respeito o trabalho dela e conseguimos sempre encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar.
“Dedicação e muito espírito de sacrifício são a chave para o sucesso”
Quais os grandes objetivos para 2025?
Continuar com o projecto do Offroad Center Bianchi Prata quer no Carregado quer no Marco de Canaveses. Que tem levado até muita gente a experiência de andar de mota em fora de estrada. E que tanto gozo me tem dado contruir esta que é a primeira escola em Portugal. Fundei este projecto em 1998 e tem sido incrível ver como tem crescido ao longo dos anos. Em termos desportivos o objetivo é trazer um projeto pioneiro para a competição. Mas a seu tempo falarei do que se trata. Adianto que irá envolver energias alternativas com o apoio da Moeve.
Como é que as pessoas reagem a estar a aprender algo consigo?
Dá-me muito gozo ensinar e as pessoas reagem com naturalidade, gostam muito da experiência e grande parte delas regressa para repetir, o que é o melhor elogio que podem fazer ao nosso centro.
Olhando para o futuro, imagina Portugal a conseguir formar pilotos de grande nível? Quais os maiores obstáculos para que isto aconteça?
Portugal tem muito bons pilotos e há uma nova geração que se for bem preparada poderá chegar a um grande nível internacional. O maior obstáculo é o de sempre, os apoios.
Quais os conselhos que dá a uma criança que tenha um poster seu e tenha a ambição de ter uma carreira como a sua?
Dedicação e muito espírito de sacrifício são a chave para o sucesso.
Percorra a galeria e veja fotos marcantes da carreira e vida de Pedro Bianchi Prata.
Fotos cedidas por Pedro Bianchi Prata